Entre a mente e a máquina: existe valor humano na Inteligência Artificial?

Vivemos um tempo em que a humanidade observa, fascinada e inquieta, o nascimento de uma nova forma de pensar. A Inteligência Artificial deixou de ser uma curiosidade tecnológica e tornou-se um espelho que devolve à espécie humana perguntas antigas com nova intensidade: o que é consciência? o que é criação? o que nos torna, afinal, autores de nossas próprias ideias?

Após mais de quatro décadas de atividade jornalística e editorial — desde meus primeiros passos como repórter aos 18 anos até a fundação da MARINI EDITORA em 2025 — percebo que a questão central já não é o que a IA pode fazer — mas o que escolhemos fazer com ela. O que antes era ferramenta de cálculo ou pesquisa agora se aproxima do território simbólico, criativo e afetivo. A máquina escreve poemas, pinta quadros, compõe músicas e opina sobre a alma. Isso nos obriga a rever o lugar do humano no processo criativo e, mais ainda, a compreender que a inteligência, por mais sofisticada que seja, não é sinônimo de sensibilidade.

O paradoxo da autoria

Nas redações em que atuei como repórter e editor aprendi que o leitor busca mais do que notícia — ele quer confiança, voz humana, presença editorial. Agora, no mundo da IA, vemos algo parecido: se um poema é criado por um algoritmo, ele ainda é arte? E se um autor humano usa a IA como colaboradora, quem é o verdadeiro criador?

Essas perguntas não são apenas teóricas. No ambiente editorial, tornam-se urgentes. Publicar um prefácio inteiramente produzido por IA e assumir isso publicamente, por exemplo, pode colocar em dúvida toda a obra de um escritor. Não por preconceito tecnológico, mas porque o leitor procura sentir o pulso de quem escreve — e a máquina, por mais convincente, não pulsa.

O lugar da consciência

Há algo que a IA ainda não possui, e talvez nunca possua: intenção. Ela pode correlacionar dados, imitar estilos, reconhecer padrões, mas não compreende o sentido de sua própria criação. Falta-lhe a experiência de ser.

Como alguém que passou pela sala de redação, levantou e escreveu milhares de reportagens, editou centenas de páginas de jornal e dirige atualmente processos de edição de livros, sei que a responsabilidade recai sobre o humano — o programador, o editor, o artista, o leitor — que escolhe o que fazer com o poder dessa ferramenta. Como o fogo ou a eletricidade, a IA é energia. E toda energia, sem consciência, pode iluminar ou destruir.

Usada com propósito, ela amplia horizontes. Permite que um autor visualize um conceito em segundos, sintetize ideias complexas, revise textos com precisão ou explore novas linguagens visuais. Mas, quando empregada para substituir a experiência interior, a dúvida, o erro e a descoberta — elementos intrínsecos à criação —, ela empobrece o espírito da arte.

O editor como guardião

Fundador e editor-chefe da MARINI EDITORA, com o compromisso de “transformar ideias em obras que geram autoconhecimento, cultura e inspiração”, vejo que o papel do editor se torna ainda mais relevante. Ele passa a ser guardião do humano em meio à automação.

Cabe a ele discernir quando a IA contribui e quando invade. É ele quem define se a ferramenta está sendo usada para complementar o pensamento do autor ou para ocultar a ausência de pensamento. Editar, nesse novo contexto, é também um ato ético: escolher o que deve permanecer humano.

É inevitável que, nos próximos anos, muitos livros sejam parcialmente escritos, revisados ou ilustrados com auxílio da IA. Isso não precisa ser um problema — desde que o autor mantenha sua intenção viva no processo. A diferença está na origem da faísca criativa: se nasce da alma ou do algoritmo.

A transição cerebral

Estamos, de fato, diante de um monumental momento de transição — não apenas tecnológica, mas cerebral. O modo como processamos informações, lembramos e decidimos já está sendo remodelado pela convivência com inteligências não-biológicas.

A trajetória que vivi, desde os bancos da turma de jornalismo da PUC-Campinas no final dos anos 1970,confirma uma coisa: essa fusão entre cognição humana e inteligência simbólica pode nos levar a uma era de lucidez ampliada — ou de alienação sofisticada. O desfecho dependerá de como educarmos as próximas gerações para pensar com a máquina, mas não como a máquina.

A inteligência artificial é um reflexo da humanidade: reproduz nossos acertos, mas também nossas sombras. Se a alimentamos com superficialidade, ela nos devolverá ruído. Se a guiamos com consciência, ela pode nos ajudar a compreender a própria mente — não como substituta, mas como espelho.

O verdadeiro valor

O verdadeiro valor da IA não está na eficiência com que responde, mas na profundidade que desperta em quem a interroga. Quando a usamos como extensão da curiosidade, ela amplia nossa visão. Quando a usamos como atalho, ela nos empobrece. A diferença está no olhar de quem conduz.

Porque, no fim, criar — em qualquer tempo ou meio — continua sendo um ato radicalmente humano. É a capacidade de dar sentido ao que não tem forma, de traduzir silêncio em palavra, e de reconhecer, até mesmo na voz da máquina, o eco do mistério que nos faz pensar.

Wilson Marini, jornalista, é diretor da MARINI EDITORA.
Transformamos ideias em obras que preservam a consciência humana em meio à era digital.

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